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sábado, 30 de julho de 2011

Jazz Cigano Quinteto lança o primeiro CD!


Eis que hoje recebo grata supresa dos Correios: chega às minhas mãos o CD do Jazz Cigano Quinteto, enviado pela banda. Já tinha escutado na web, mas estava preparando com carinho um post a respeito. Eles me concederam a honra de fazer o texto do encarte, permitindo ainda que eu divulgasse o link do DJANGOLOGIA. Em papos online com o Vinícius Araújo, o outro guitarrista do JCQ, pedi detalhes de como tinha sido o processo de gravação.

Vinícius contou que foi uma produção independente, bancada com o dinheiro dos shows que fizeram nos últimos dois anos. Contaram ainda com a boa vontade do pessoal da Curitiba Audiowizards (que recebe aqui o agradecimento penhorado deste blogueiro).

"Apresentamos a ideia do grupo ao Lauro (Rímoli, um dos sócios), ele gostou bastante e topou fazer um preço extremamente camarada. " Sem a ajuda dele ia ser impossível ter esse projeto hoje. Sem falar que é um excelente técnico e tirou leite de pedra dos nossos instrumentos, que não são lá grande coisa...", brincou.

O CD tem preço mega-acessível (R$ 15), portanto, não há nem o que reclamar. É só comprar. Por enquanto, eles ainda estão buscando um esquema de distribuição, portanto, precisa entrar em contato direto com a banda, pelo email jazzciganoquinteto@gmail.com.

Para o próximo CD (que bom que já pensam no próximo!), o guitarrista afirma que a banda quer tentar reforçar a captação de recursos com incentivos fiscais. Um dos motivos, explica Vinícius, é poder bancar os direitos autorais de temas que não estão em domínio público – o que explica a
ausência dos temas compostos por Django e outros manouches.

Ouvindo o resultado, acho que a limitação orçamentária fez bem ao repertório. O estilo precisa de oxigenação, de novos temas. O CD traz dois choros de Pixinguinha (Lamentos e Naquele Tempo), duas tradicionais (Swing Gitane e Les Yeux Noirs/Dark Eyes/Otchi tchornie) e duas músicas (Armações ciganas e Ciganisses) que já apareciam no CD solo do Eduardo. Ainda sobra espaço para duas novas composições próprias: Aurul, do violinista John Theo, e Erica, também do Eduardo, ambas muito agradáveis aos ouvidos.

Pode haver alguém com melhor ouvido - ou algum chato - que discorde, mas o nível de execução do grupo me parece bastante elevado e as participações passam entusiasmo. Há demonstrações de virtuosismo aqui e ali, mas sem exagerar nem sair da melodia, sempre com ideias muito bem acabadas. Os músicos gravaram separadamente, por cima do violão guia tocado por Eduardo. Vinícius foi o primeiro a gravar, seguido por Eduardo, pelo contrabaixista Fred Pedrosa, por John Theo e, por fim, pelo percussionista Mateus Azevedo. Aqui, ponto e parágrafo.

A "bandeja cigana" do Mateus é um show à parte, que merece ser apreciado neste vídeo, em que ele demonstra primeiro cada peça em separado, e depois acompanha versões famosas de Les Yeux Noirs e Minor Swing. Apenas escutando, é completamente impossível adivinhar de onde está tirando os sons. Engenhosidade pouca é bobagem. Um instrumento no mais puro espírito cigano que pode ser sintetizado pela frase bastante usada aqui no Rio, "se a vida te dá um limão... faça uma caipirinha".



"É horrível fazer isso sem ouvir o que os outros vão tocar", lamentou Vinícius. "Com mais dinheiro, daria para pagar uma gravação separada mas ao vivo, com diferentes salas pros instrumentos tocando ao mesmo tempo. Quando toca todo mundo junto, rola uma química bem diferente da gravação separada. Apesar disso, me surpreendi com o resultado", disse.

Outra ideia é trazer músicos convidados, os famosos canjeiros. Um deles, inusitado, acabou sendo incorporado à banda: "O Lucas Miranda é um cavaquinista de choro que vinha tocando jazz manouche no cavaco ha um tempo nessas canjas e quase toda tarde la na FAP comigo. Inclusive substituiu o Eduardo, agora que ele foi pros Estados Unidos. Agora, ele está tocando um violão de boca em D no Quinteto... fizemos algumas apresentações com ele e já está mandando muito bem, absorveu bem rápido a linguagem".

Também mais manouche impossível é a foto de divulgação, que aparece no começo deste post, com os cinco parados diante de um Corcel antigo, com a pintura impecável num azul digno da década de 1970. Imaginei que tivesse havido alguma produção, e fui perguntar. Planejado? Qual o quê. "Aconteceu totalmente ao acaso. Íamos tirar umas fotos em uma linha de trem aqui em Curitiba, e no outro lado da rua tava aquele corcel parado. Batemos umas três ou quatro fotos com ele antes do dono voltar e saímos correndo do lugar! Acabaram sendo as melhores fotos desse dia, virou material pra vários cartazes de shows nossos", contou Vinícius, rindo.

domingo, 24 de julho de 2011

Les Paul falando de Django na BBC

Um dos principais responsáveis por Django Reinhardt ser reconhecido nos Estados Unidos como inovador da guitarra - ainda que alguns se apeguem a Charlie Christian como representante "legítimo" (leia-se, afroamericano) do estilo - foi o jovem Lester "Les Paul" Polfus, morto em agosto de 2009 por complicações de uma pneumonia.

Les Paul, que se tornaria famoso por inventar a guitarra elétrica de corpo sólida e posteriormente, a gravação multicanais, era provavelmente o fã número um do cigano entre os guitarristas dos EUA à época. Em entrevista ao programa Four, da BBC, ele falou enternecidamente sobre o impacto de Django em sua maneira de tocar. O vídeo foi postado no canal do também guitarrista Teddy Dupont no Youtube.

Abaixo, coloquei uma descrição do vídeo, com o texto em inglês.



LES PAUL (voz em off sobre imagem do quinteto tocando J'Attendrai):

I just couldn't get over him!
After i heard Art Tatum, something else happened. I heard Django Reinhardt.
When i heard him, i said, 'well, i might as well be selling shoes'.
Good old Django.


LES PAUL tira uma guitarra na capa do meio de uma fileira de guitarras e a coloca em cima da casa.

LES PAUL (voz em off):
Well, you say there's no two women alike, there's no two guitar cases alike, i'll tell you that for sure.

Tira da capa uma guitarra Selmer.

LES PAUL:
And this... it's just one of the great gifts i have here, and Django is just... was... a beautiful man.

LES PAUL (voz em off sobre imagem do quinteto tocando J'Attendrai):
He was the greatest guitarist in my mind. I'd do anything to play as great as he did.


GARY GIDDENS
Jazz Writer

I would say, more than any guitarist, it's Django that you ofter hear in Les Paul's mature style. The main things, the clarity of the style, the simplicity of the melodic lines.

LES PAUL pega um disco de Django, retira a poeira e o coloca para tocar na vitrola antiga:

LES PAUL (em off):
Way back when i was a kid, my mother would say to me, 'Lester, you don't know how good that sounds'. And i'd say, that's right, i don't know how good that sounds.


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TRADUÇÃO

LES PAUL

Eu simplesmente não conseguia esquecê-lo!
Depois que eu ouvi Art Tatum, algo mais aconteceu. Eu ouvi Django Reinhardt.
Quando eu ou ouvi, eu disse: 'bem, eu poderia estar vendendo sapatos.'
Bom e velho Django.

Bem, dizem que não há duas mulheres iguais, não há duas capas de guitarra iguais, isso digo-lhes com certeza.

E isto... é simplesmente um dos maiores dádivas que tenho aqui, e Django é simplesmente... era... um homem maravilhoso.

Na minha cabeça, ele era o melhor guitarrista. Eu faria qualquer coisa para tocar tão bem quanto ele tocava.


GARY GIDDENS
Eu diria que, mais do que qualquer guitarrista, é Django que frequentemente se escuta no estilo maduro de Les Paul. As coisas principais, a clareza do estilo, a simplicidade das linhas melódicas.


LES PAUL
Quando eu era garoto, minha mãe costumava me dizer: "Lester, você não sabe o quanto isso soa bem". E eu dizia: "Está certo, eu não sei o quanto isso soa bem."

Novo agradecimento

Interrompemos a programação do blog DJANGOLOGIA para um comunicado especial:

Eis que o blog chega a 17 seguidores, "singelo" aumento de 850%! em um ano. Agradeço novamente ao pessoal que tem visitado, lido os textos, comentado e sugerido assuntos, além dos músicos manouches que estão aos poucos ajudando a fazer o estilo ser conhecido pelo público. Agradeço mais ainda aos que se dispõe a colaborar para aprimorar cada vez mais a qualidade do material postado aqui, bem como os que o recomendam aos amigos e familiares.

Só para marcar o momento de nostalgia... Comecei o blog em 2008, após cinco anos divulgando o DJANGOLOGIA original em forma de site estático, cujo conteúdo não cheguei a completar da maneira como tinha imaginado, e que abandonei porque a pesquisa estava ainda no começo (apenas cinco anos) para tomar forma definitiva. E principalmente porque eu ainda não tinha muita ideia dos erros cometidos por Charles Delaunay, minha primeira fonte bibliográfica. O site foi levado ao ar em 2003 para marcar os 50 anos da morte de Django. O design é do publicitário Wendel Tavares.

sábado, 16 de julho de 2011

Poucas & Boas e Louis Plessier (23 e 24 / julho - Londrina - PR)

O trio paranaense Poucas & Boas, do qual já falamos aqui, vai se apresentar no próximo sábado (23/7) e domingo (24/&) ao lado do guitarrista Louis Plessier, um manouche "de raiz", dono de um estilo bastante peculiar.

Plessier nasceu em Lyon, em 1944, poucos meses antes da libertação da França pelos Aliados, na Segunda Guerra Mundial. Começou a tocar guitarra aos 15 e apaixonou-se pelo jazz manouche. No começo da década de 1960, durante uma apresentação na Alsácia, conheceu a jovem Marie Weiss, sobrinha de Django Reinhardt. Os dois se casaram e mantiveram um relacionamento tristemente encerrado em 2000, com a morte de Marie.

Tio de outros dois manouches de renome, Biréli e Fisso Lagrène, Plessier – com quem tocou na cidade de Barr, na Alsácia – alcançou uma técnica com equilíbrio milimétrico entre a base e o solo. Transita entre um e outro sem esforço, realiza ambos simultaneamente, tudo sem perder o ritmo e o senso de melodia.

Há um ano, Plessier deixou a França para se instalar em Santos. A primeira visita ocorreu em novembro de 2002, quando ele conheceu um ótimo motivo para voltar, além da música: a atual mulher, Marilene. Em 2004, o guitarrista mostrou seu som em Fortaleza, e, em 2007, apresentou o espetáculo "Latcho Drom" no Sesc Santana. Em 2009, foi a vez do Sesc Santos ceder espaço para seu espetáculo "O Caminho do Jazz Manouche".Voltou ao palco do teatro do Sesc Santos no passado, com o show "Nas cordas do coração".

Infelizmente, há pouco para se ver dele no Youtube, por enquanto. Seu canal possui apenas um vídeo, postado em janeiro deste ano, de um improviso executado em apresentação na Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos, em 2010.



Pelo que o líder do trio, Mauro Albert, adiantou ao DJANGOLOGIA, o repertório vai ficar mais em torno dos "standards manouches" e algumas composições menos conhecidas, mas bem representativas do estilo. E muito improviso, claro. Sem dúvida, vale conferir.

Serviço
Trio Poucas & Boas e Louis Plessier
Circo Funcart
Rua Senador Naves, 2380 – Jardim Petrópolis, Londrina, PR.
Ingressos R$ 30 (R$ 15 estudantes e professores de música, R$ 10 alunos do Festival de Música e Espectadores Funcart)
Informações: (41) 3342-2362

Canal de Louis Plessier no Youtube
http://www.youtube.com/user/LouisPlessier

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Agenda Manouche para julho

Trio POUCAS & BOAS

Dia 13 (quarta-feira) - Gravação para Rádio da Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Dia 14 (quinta-feira) - Festival de Música de Londrina - Valentino Bar (Rua Prefeito Faria Lima, 486, )

Dia 21 - Música no Mall - Shopping Catuai (Rodovia Celso Garcia, s/n, km 377, Londrina - PR)

Dias 23 e 24 (sábado e domingo) - Com Louis Plessier (Funcart - Rua Senador Naves, 2380 – Jardim Petrópolis, Londrina, PR)


HOT CLUB DE PIRACICABA

Dia 20 (quarta-feira) - Noite francesa no Tre Ristorante & Vinoteca (Rua Alferes José Caetano, 1410, Centro, Piracicaba - SP. Tels: 19-3435-9803 / 3402-6802)



BH GYPSY JAZZ


Dia 23(sábado) - Décima Primeira Festa Nacional Francesa,às 17:00.
Rua Pernambuco,entre Rua Cláudio Manoel e Rua Santa Rita Durão-Belo Horizonte-MG


HOT JAZZ CLUB

 

Dia 29(sexta) - Hot Jazz Club e convidados às 21hrs no Pizza Bar Soul (Av. Albino José Barbosa de Oliveira, 1.277
Barão Geraldo - Campinas | SP)



Se você tem uma banda de jazz manouche e quer divulgar sua agenda de shows, envie-a para o e-mail felipoxss@hotmail.com.

sábado, 9 de julho de 2011

Temos um novo colaborador!

Agora é oficial: Felipe Salvego, que já tinha corrido atrás do levantamento dos manouches do Brasil, publicado aqui, se tornou colaborador do blog DJANGOLOGIA. Ele vai atualizar a agenda com os shows das bandas e artistas solo que se dedicam ao jazz cigano, aqui no blog e no Twitter.

Felipe, para quem ainda não conhece, é o caçula dos manouches brasileiros. Com apenas 13 anos, já acompanha o pai, Otiniel Aleixo, e José Fernando no Hot Club de Piracicaba, e tem seu próprio duo de jazz cigano com Alex Penezzi, filho do violonista Alessandro Penezzi, que tocava com Otiniel.

"Comecei a tocar meus primeiros acordes por volta dos 4 anos. Depois, com 7, passei a estudar guitarra rock e, com 11, conheci o jazz manouche, que estou estudando. Uso os ouvidos para aprender, observando as pessoas tocarem", conta ele.


PARA SABER MAIS
Hot Club de Piracicaba
http://www.youtube.com/user/hcpira

Gypsy Duo Guitar
http://www.youtube.com/watch?v=1eJg87e-RKg

Alex Penezzi
http://www.youtube.com/user/alexpenezzi

Alessandro Penezzi
http://www.youtube.com/user/apenezzi

domingo, 3 de julho de 2011

Som manouche chega ao MS

Na maioria das vezes, os jovens são apresentados ao som de Django Reinhardt pelos mais velhos. Não foi o caso do sul-matogrossense Paulo Arguelo. Aos 9 anos, ele estava ainda "nos primeiros acordes" quando viu o filme Poucas e Boas (Sweet and lowdown, 1999), de Woody Allen, provavelmente em 2001. Estava fisgado.

A partir de 2007, já se apresentando em Campo Grande, sua cidade natal, começou a usar a internet para pesquisar mais sobre o sobre o tal guitarrista que o protagonista do filme, o fictício Emmett Ray (Sean Penn), tanto temia. Alertou o pai, o também violonista Sérgio, que aderiu imediatamente à onda.

Os dois gravaram um vídeo, postado no Youtube, executando Rhythme Futur, composição original de Django:



Trata-se de um tema emblemático, ainda que menos badalado. Não costuma ser visto em listas de standards do jazz manouche. Django o registrou duas vezes em disco: em 1 de outubro de 1940 e em 22 de setembro de 1947. Nas duas, esteve acompanhado pelo parceiro descoberto após a separação de Stéphane Grappelli, o novato e talentoso - mas não genial - clarinetista Hubert Rostaing.

Era uma época de mudança. A parceria criativa com Grappelli nunca mais teve igual, mas Rostaing trazia ares de juventude e modernidade à música de Django, que já parecia datada diante da nova sensação nos Estados Unidos, o bebop. A ocupação nazista em Paris o impediria, pelos quatro anos seguintes, de ter contato com os músicos americanos mais entendidos do estilo. Quando veio a liberação, em 1944, imediatamente tentou recuperar o tempo perdido. Procurou se inteirar dos novos dialetos jazzisticos, enquanto recebia convites para revisitar a sonoridade do Quinteto ou colaborar com as big bands dominadas por metais, nas quais atuava como coadjuvante.

Na primeira gravação, além de Rostaing, Django é acompanhado na guitarra por seu irmão, Joseph Reinhardt, pelo contrabaixo de Francis Luca e a bateria do egípcio Pierre Fouad. A sessão de gravação incluiu uma cantora, Josette Dayde, mais uma tentativa do quinteto de fazer concessão ao formato jazzístico mais popular, com vocais. Na segunda, em vez de Joseph, Django tinha na guitarra o primo, Eugéne Vèes, seu contrabaixista favorito, Emmanuel Soudieux, e a bateria de André Jourdan.

O link de Rhythme futur foi colocado pelo Paulo na comunidade Jazz Manouche no Brasil, no Facebook. Depois de conferir e analisar, decidi entrar em contato com ele para algumas perguntas. O resultado está abaixo:


ENTREVISTA // PAULO ARGUELO

Você e seu pai - ou você - se apresentam profissionalmente? Qual a formação musical dos dois?

Sim, estamos fazendo algumas apresentações pela cidade e pelo estado, levando a música regional do Mato Grosso do Sul. Nossa formação é popular. Meu pai me ensinou tudo 'de ouvido', porém vem a necessidade de estudar um pouco de teoria e estou me dedicando a isso agora.

Por que Rhythme futur?

Escolhi Rhythme futur por ser uma música, como o nome diz, à frente do seu tempo e acho que até do nosso tempo. É minha preferida. Muito complexa, só sendo um "monstro" como Django para fazê-la com dois dedos e uma palheta. Eu, com dez dedos, sofri pra aprendê-la.

Quanto tempo de ensaio foi necessário?

Demorou um pouco, acho que uns seis meses. inda estou em fase de adaptação. Se fico uma semana sem tocá-la, regrido muito. Ainda estou aprendendo.

Você usou algum livro com método de jazz cigano?

Nessa música, usei o youtube como grande ferramenta, principalmente, a apresentação do Rosenberg Trio, sensacional! Tenho métodos de jazz manouche que me ajudam muito. O que diferencia e só no uso da palheta - toco com as unhas -, e o meu violão ser de náilon.

O que mais o atraiu na sonoridade de Django?

A sonoridade e o "feeling" acho que são inimitáveis. A nova forma que ele encontrou para tocar só o fez mais fantástico.

Você pretende utilizar elementos do estilo do jazz cigano no seu som a partir desta experiência?

Sim. Sempre fui fanático por flamenco, e agora também pelo manouche. Tento juntar isso sempre ao meu trabalho regional. Às vezes, vou tocar em um lugar e as pessoas pedem algo um pouco diferente. Quando toco algo manouche, a recepção é muito boa. As pessoas dizem: "Já ouvi isso em algum lugar?!" (risos) Aí, faço um resuminho sobre o jazz manouche.



Veja também:

Canal do Paulo Arguelo no Youtube
http://www.youtube.com/user/pauloarguelo

Comunidade Jazz Manouche no Brasil
http://www.facebook.com/home.php?sk=group_117755024959336

terça-feira, 7 de junho de 2011

A batucada de Bina



A família do menino Bina mudou-se do Rio de Janeiro, onde ele nasceu em 1973, para São Paulo, quando ele ainda era criança. Do avô violinista, guardou apenas uma imagem dele mostrando-lhe o instrumento. Jogar futebol era divertido, mas o menino deixava a pelada com a turma da rua sempre que ouvia o som de guitarra que saía da casa de um vizinho. Aos 10 anos, começou a ouvir rock n' roll, pelo qual conheceu o jazz e, a partir deste, a bossa nova "e assim por diante".

O interesse pela música de Vinício Coquet o levou a estudar com alguns professores particulares, "pescando um pouco ali um pouco aqui". Também frequentou a Universidade Livre de Música (ULM). Estava correndo em busca de "um determinado som"... ou seja, o seu. Há oito anos, Bina se divide entre Nova York e São Paulo, onde participa de diversos projetos musicais.

Recentemente, trabalhou em dois álbuns com o pianista novaiorquino Ehud Asherie - este tocando órgão Hammond -, no projeto intitulado Samba de gringo. Também participou do CD da big band paulista Orquestra Saga (Sociedade Amigos da Gafieira), com presenças de Seu Jorge, Fabiana Cozza e Wilson Das Neves. Em entrevista ao blog DJANGOLOGIA, Bina fala do novo trabalho que está lançando, disponível para download gratuito, Batuque manouche, no qual investe na mistura de ritmos brasileiros com a pegada do jazz cigano.

ENTREVISTA // VINÍCIO 'BINA' COQUET

Como você conheceu o jazz manouche? Ouvindo o próprio Django ou outro artista?

Eu já conhecia Django, mas o Jazz Manouche conheci em 2009 pelo youtube. Fiquei surpreso de ver [que Django tinha] uma penca de seguidores! Na verdade, eu vinha estudando violão de 7 cordas, influenciado pelo Dino 7 Cordas, que também lembra o estilo pelo fato das cordas de aço. Eu já achava uma semelhança entre Django e Jacob do Bandolim, mas quando ouvi a gravação de Tico-Tico pelo Garoto, no violão tenor, fui procurar saber mais sobre Django e descobri o jazz manouche. A partir dai comecei a querer mudar o meu som. Senti que eram essas a técnica e a sonoridade que eu estava procurando pra executar as melodias de choros e outras coisas. Tenho um problema com as unhas, minhas unhas não crescem muito e, quando crescem, estão sempre quebrando.

O que mais lhe atraiu no estilo manouche?

A sonoridade do violão, a ideia dele "empurrar" o som, os vibratos, a expressão... e a semelhança com valsas e choros brasileiros, mesmo porque há uma influência europeia em ambos.

Que outros artistas participam das gravações?

Até agora, tem Anat Cohen, tocando clarinete em uma versão da musica do Cartola, Alvorada, tem também o Barão do Pandeiro, cantando Minha, também do Cartola e tocando pandeiro em outras. Pode ser que eu inclua uma gravação mais antiga de uma música minha com Marku Ribas cantando, mas isso ainda não decidi, ainda tem mais coisas pra se gravar.

Que instrumentos usou nas gravações?

No fim de 2010, comprei meu primeiro violão manouche. É um Belleville, antigo american manouche. Toquei cavaquinho também e violão de 7 cordas. E tem percussão também, lógico, o batuque! São vários convidados na percussão.

Além do choro, você mistura ritmos inesperados ao manouche, como o frevo e o xote. Como surgiram as ideias para estes temas?

Há algum tempo, venho me dedicando exclusivamente à música brasileira. Tenho muito o que aprender, assim como na técnica manouche, que ainda é uma novidade pra mim. Me preocupo em fazer música. Não música para músico. Tem muito músico bom fazendo música chata! Costumo frequentar bares e casas de samba, forró, rodas de Choro, samba-rock, e é natural o povo dançar. É maravilhoso dançar ao som de Noites Cariocas, mas pode-se também sentar e ficar só ouvindo. Aqui em NY, quando vou ver meu amigo Stephane Wrembel e seu projeto Django Experiment, vejo que muita gente tem vontade de sair dançando, mas por timidez e falta de ginga, não rola, diferente do povo brasileiro!


>> Veja mais sobre Bina Coquet no Youtube, Myspace e no Twitter.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A inspiração do Mestre das Trevas

Sem Django Reinhardt, os acordes sombrios que tornaram heavy metal um estilo mundialmente conhecido poderiam não ter saído da guitarra do Mestre das Trevas, Tony Iommi, um dos fundadores do Black Sabbath.

Ainda que tenha sido por meio dela que fiquei sabendo da existência de Django, em outubro de 1998, a Guitar Player brasileira vacila em relação ao cigano. Às vezes, com o frágil argumento de que ele tocava guitarra acústica (ignorando que ele adotou a elétrica a partir de 1946), o deixa de fora das listas de melhores guitarristas de todos os tempos, e - crime dos crimes - deixou passar o centenário dele, em janeiro do ano passado, em branco. Mandei emails oferecendo colaboração, liguei para a redação, mas não fui atendido.

Em que pese a falta de sensibilidade do povo que edita a versão brasileira da revista, os gringos estão aí para reconhecer o peso que Django teve, das mais variadas formas. Para Iommi, o cigano foi uma inspiração para continuar a tocar depois de um acidente grave, daqueles que pode decretar o fim de uma carreira promissora.

O repórter Barry Cleveland, da Guitar Player americana, entrevistou Iommi sobre o lançamento do álbum The devil you know. A matéria foi traduzida e publicada na edição deste mês da Guitar Player brasileira, sob o título Atravessando o céu e o inferno. O jornalista puxou o assunto do acidente e das adaptações necessárias para que o guitarrista superasse a perda das pontas dos dedos médio e anelar.





TRECHOS DA ENTREVISTA

GUITAR PLAYER - Depois do acidente na mão direita, você foi encorajado a tocar novamente quando ficou sabendo de Django Reinhardt?

TONY IOMMI - Sim. Até então, eu nunca havia ouvido falar de Django Reinhardt, para ser honesto. Eu era jovem. Mas assim que descobri que algo similar acontecido a ele (os dedos 3 e 4 de Reinhardt ficaram paralisados por causa de queimaduras extremas), passei a tentar saber mais sobre ele e ouvir tudo o que havia feito. Depois do acidente, disseram-me para desistir. Fui ao hospital e eles falaram: "Você pode tentar outra carreira". Mas ouvir Django me inspirou a continuar. A não ser que você tenha passado por esse tipo de acidente, não consegue saber o quanto é difícil (conseguir tocar), porque é um outro mundo. Antes do acidente, eu tocava com todos os dedos, mas depois foi como: "Deus, o que eu faço agora?" ou "Como faço essa parte?" Tentei encontrar novas maneiras de tocar, mas havia um monte de coisas que eu não podia fazer porque simplesmente não era possível nnaquela época. Não ser capaz de sentir as cordas era um dos maiores problemas, porque você pode pressionar a corda forte demais ou não saber onde está. É uma questão de trabalhar por anos até se acostumar.

(...)

O vibrato sempre foi parte fundamental do seu som. Que dedos você usava para vibrato depois do acidente?

Na maioria das vezes, eu utilizava meus dedos indicador e mínimo - e ainda uso. Por muito tempo depois do acidente, toquei somente com esses dois dedos, porque o mínimo tinha de tomar o lugar dos outros dedos e tocar as partes que eu era incapaz de fazer com eles. Era um esforço muito grande tocar acordes cheios naquela época, portanto tive de me adaptar e criar um estilo próprio. Quando uso os dedais, não sinto as cordas, e isso leva muito tempo para se acostumar.

(Revista Guitar Player, nº 179, ano 15)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Prova de amizade

Um papel timbrado do Hotel Henry Hudson, de Nova York, cheio de garranchos em francês, é possivelmente a maior prova da amizade de Django Reinhardt e seu eterno parceiro musical, Stéphane Grappelli.

Em plena excursão pelos Estados Unidos como convidado da orquestra de Edward Duke Ellington, consagração de sua carreira, Django decidiu compartilhar as novidades com Stéphane. No dia 5 de dezembro, pegou uma folha com a caravela estilizada que servia o selo do hotel - localizado na Avenida 57, número 353 - e escreveu uma pequena carta, de menos de 300 palavras.

No documentário A century in the jazz life, Stéphane foi categórico sobre a relação dos dois: "Se eu tive um amigo na vida, foi ele". No filme, Grappelli também conta como Django quase atrapalhou a assinatura do primeiro contrato do Quintette para uma excursão pela Inglaterra, em 1938, ao implicar com uma cláusula do contrato que previa o pagamento da hospedagem pelos contratantes.

Até então, Django aprendera apenas a garatujar o próprio nome, mas não gostava da ideia de ser deixado de lado das negociações por escrito. Stéphane sentiu que o amigo precisava de mais do que isso para não se meter em confusão e lhe ensinou o básico do idioma.

O líder do HOT CLUB DO BRASIL, Benoit Decharneux, também nascido na Bélgica, ficou comovido com o provável esforço do guitarrista para redigir a mensagem, reproduzida no livro Django Reinhardt - Rhythme futurs, de Alain Antonietto e François Billard. Decidiu então traduzi-la e enviá-la aos companheiros da banda.

"Esta carta mostra o carinho que o Django tinha pelo seu parceiro e amigo Stéphane Grappeli. O texto tem erros grosseiros, mas é possível compreender o sentido das palavras. Demonstra que Django não era totalmente analfabeto. Ele escrevia como uma criança que ainda não teve aulas de ortografia e gramática", analisou Benoit, a pedido do DJANGOLOGIA.

Solicitei ainda que ele especificasse um pouco estes erros de francês. Em vez de "c'est" (é), Django escrevia "sais" (sei); em vez de "mots" (palavras), "maux" (males). Praticamente não há vírgulas ou pontos e ele repetia muito a palavra "alors" (então), um aparente vício de linguagem. Outros equívocos, como as grafias dos nomes das cidades da excursão e a inclusão do Canadá na lista, são óbvios mesmo para quem não domina o idioma.

Abaixo, seguem os textos traduzido e original da carta. Foram mantidos o estilo original e as grafias usadas por Django.


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A CARTA A GRAPPELLI

5 dez 1946

Meu caro Stéphane, eu te escrevo duas palavras, para te dizer que os negócios vão magnificamente bem aqui. Você me desculpe por não ter escrito mais cedo mas estando em turnê eu não tinha tempo. Em New York, todo mundo está esperando por você e perguntam quando você vem então eu respondo que muito em breve. Todo mundo está encantado e logo que cheguei eu me informei sobre trazer o Quinteto, mas disseram que é impossível então parei de falar sobre você. Eles são muito duros mas tudo vai dar certo, talvez demore um pouco mas você virá aos EUA meu caro Stéphane. Eu não tenho mais grandes novidades para te contar então vou te descrever a turnê. É formidável, nós temos um 'pullman' para a orquestra, todos os músicos estão deitados. Duke e eu temos um pequeno living room com duas camas. Duke é um grande músico, frequentemente depois dos concertos Duke escreve música no living room então é maravilhoso, formidável. Duke acaba de escrever uma grande ópera. É uma loucura. Eu vou te dizer algumas cidades. Bufalo, Claivelan Kasas Citi Cinsinati Chicago Detroit Philadelphia Pétersburg Norkfolk Rochester Toronto Canadá Toledo Omaa Ohio San Francisco Lincoln. Enfim eu percorri bastante, e isso é apenas a metade, não me lembro das outras cidades, então você tem noção do trabalho. Meu caro Stéphane você me desculpe pelos erros de ortografia mas eu espero que você consiga compreender. Conte bem as coisas a Georgette, você sabe, a pequena do jornal Musical Express.

Até breve

D Reinhardt



TEXTO ORIGINAL

Mont'cher Stéphane, je técris sais deux maux, pour te dire que les a faires vons magnifiquement bien. Isí, tu méscusera si je té pas ecrit plus vite étante en tournés je navai vraiment pas le tent. Lésons sais chose la de cotès. A New York tu è trés adendu tous le monde meuq demandes can viendratu alors moi je leur repons que tu viendra biento. A lors tous lemonde è ravis. Mais quélque jour aprés mon a rivèr. Je me suis informés pour le Quintétte. A lu nion il mon di que sais inposible. A lor je me suis di sais pas la péne de trot leus parlés de toit. Il son très dur mais tou ca renjera quanméme. Ca durera petétre lontent mais tu viendra aux USA mon chèr Stéphane je. Ne vois plus grand chose a te dir mintenant je vais te décrire a la vites e la tournes. Sais formidable nous avons un pulmmane pour l orchèste. Tous les musicies sons couchèt et Duke et moi nous avons un petit livig room a deux lits. Duke sais le plus grand musicien. Souven a prés le concèr Duke écri la musique dans le petit livig room. Alor sais mèrvèlles sais vraiment formidable Duke vien déscritre un grand opéra. Sais sous enfin je vais te dirles quelque villes. Bufalo, Claivelan Kasas Citi Cinsinati Chicago Boston Detroit Philadélphia Pétersburg Norkfolk Rochester Toronto Canada Toledo Omaa Ohio San Francisco Lingcol enfin jais parcouru pa mal èt ce né que lá moitis je meux rapéle plus des villes. A lor que tu te renconte du travalle. Mon chèr Stéphane tu mescusera encore une foit de plus pour locotograf mais jéspére que tu conpradrai. Di bien des chose Georgette tu sais la petit du journales Musical Express

A biento

D. Reinhardt

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Manouches du Brésil

Como foi comentado em outro post, o jazz manouche vem conquistando um número razoável de adeptos, especialmente entre os músicos. Com a colaboração do "leitor-repórter" Felipe Salvego, o DJANGOLOGIA listou 11 BANDAS e 5 ARTISTAS SOLO com influências do gênero em vários estados do Brasil.

Muitos outros podem ter ficado de fora. O levantamento, portanto, será constantemente atualizado. Informações adicionais serão acrescentadas e corrigidas à medida que forem confirmadas. Qualquer banda e/ou artista solo que deseje pode ser incluído no mapeamento. Basta entrar em contato com o Editor.


BANDAS (12)

- BH Gypsy Jazz (Belo Horizonte, MG)

- Cassio Poletto Hot Club (São Paulo, SP)

- Jazz Cigano Quinteto (Curitiba, PR)
www.myspace.com/jazzciganoquinteto

- Hot Club de Piracicaba (SP)
www.myspace.com/hotclubdepiracicaba

- Hot Club do Brasil (Taubaté, SP)
www.myspace.com/hotclubdobrasil

- Hot Club de Vitória (ES)

- Hot Jazz Club (Campinas, SP)

- Le Garagem (Rio de Janeiro, RJ)
www.facebook.com/group.php?gid=103668809010

- Poucas e Boas (Curitiba, PR)
http://mauroalbert.webng.com/poucaseboas.htm

- Santa Maria da Feira
www.myspace.com/santamariadafeira

- Receita da Felicidade
www.myspace.com/receitadefelicidade

- Chez Jacquet


ARTISTAS SOLO (5)

- Edgar de Almeida
www.myspace.com/edgardealmeida

- Leandro Martins

- Paulo Arguelo

- Raphael Saccomani

- Rodrigo Nassif
www.myspace.com/rodrigonassif

domingo, 9 de janeiro de 2011

As inspirações ciganas de Eduardo Mercuri



O que tem de prolífico, o compositor, arranjador, guitarrista, bandolinista e violonista Eduardo Mercuri tem de eclético. Eduardo, de 23 anos, participa de nada menos do que seis projetos musicais, em diferentes vertentes: Mercuri Duo (instrumental de cordas com o irmão, Emílio), Bayaka e Omundô (música étnica), o trio Receita de Samba (choro, Samba e outros ritmos brasileiros) e Eu, Você e Maria (como arranjador, mesclando batida eletrônica e instrumentos de cordas).

Se você só contou cinco projetos no parágrafo acima, é porque ficou reservado para este parágrafo o trabalho que o traz até o DJANGOLOGIA: Eduardo é o líder do Jazz Cigano Quinteto, outro grupo curitibano que busca resgatar a sonoridade do Quintette du Hot Club de France e de Django Reinhardt.

Seu primeiro álbum, O Timbre das mãos, está disponível para download. Entre sambas, choros e outras músicas brasileiras, duas faixas se destacam para os admiradores do jazz manouche: Ciganisses e Tzigane Swing.

O álbum próprio do Jazz Cigano Quinteto, segundo ele, deve ficar pronto em dois meses, e trará mais mistura do estilo aos ritmos brasileiros - já que, nessas duas primeiras faixas, a intenção era fazer apenas uma homenagem.

Eduardo nasceu em Curitiba, e começou a tocar, por influência do pai, também músico, aos 11 anos. É licenciado em Música pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP). DJANGOLOGIA conversou com o músico para saber mais sobre o disco e as influências de Django Reinhardt em sua vida.


BATE-PAPO / EDUARDO MERCURI

Como você conheceu o jazz manouche? Foi por meio do próprio Django ou de outro artista?

Conheci pelo youtube, quando estava vendo uns vídeos de um guitarrista sueco chamado Andreas Öberg. Fiquei impressionado com ele tocando a guitarra elétrica, daí, fuçando pelo youtube, achei uns vídeos dele tocando violão manouche. Isso foi bem na época em que comecei a me interessar por jazz. Depois disso, assisti ao filme Poucas e Boas, do Woody Allen, me apaixonei completamente e fui atrás das gravações do Django.


O que mais lhe atraiu no estilo?

Várias coisas, e talvez a grande soma delas.
Primeiro, por ser um estilo de jazz antigo e que marca muito uma época. Não é possível escutar o jazz manouche sem se deixar levar a imaginar a atmosfera em que as pessoas viviam nas décadas de 30 e 40.
Outro ponto marcante é a fácil assimilação do estilo. Por ser antigo, acredito que é muito mais simples de se assimilar do que uma música do [John] Coltrane ou algo mais atual como uma gravação do Kurt Rosenwinkel.
Outro ponto forte é a grande emoção que é passada. Como em todas as vertentes da música cigana, o músico não toca aquilo porque sabe [tocar], apenas. O sentimento é muito presente!
Outro atrativo grande, principalmente para nós, brasileiros, é a proximidade com a linguagem do choro. Fico imaginando um encontro entre o Django e o Jacob do Bandolim, ia ser séria a coisa! Hehehe!
O último atrativo pode ser a virtuosidade dos instrumentistas do estilo, e o fato de ser algo tocado no violão, e não nos instrumentos clássicos do jazz, como trompete, sax, etc.


Como surgiram os temas das faixas que tem base no estilo manouche?

O tema Ciganisses fiz em duas sessões. Eu queria fazer um tema de jazz cigano, e me empenhei nisso. Foi bem no começo da minha interação com o estilo. Compus o tema, mas ele ficou meio desorganizado. Uns 7 meses depois, um amigo me deu dicas sobre quadratura melódica, sobre tamanho (em compassos) de cada parte, A e B, e acabei terminando o tema.
Tzigane Swing saiu em uma tarde, muito rapidamente. Eu tinha passado a tarde tocando com meu amigo Vinícius, que toca comigo no Jazz Cigano Quinteto, então no meio das conversas e toques fiz a frase inicial. De improviso, saíram mais duas frases e eu disse: - Isso pode virar um tema. Acabou que virou mesmo e naquela tarde eu já estava com a partitura escrita!


Como é o seu processo de composição?

O processo de composição é algo muito natural comigo, eu penso que compor é algo como um exercício, quanto mais você pratica mas fácil e mais rápido as idéias surgem. Geralmente elas acontecem quando eu passo um tempo tocando tipo uma tarde inteira, daí quando estou bem aquecido e atento as idéias boas aparecem.
Tem um tema no disco que o processo de composição foi muito louco, pois foi no carro dirigindo, eu tinha saído de um workshop com o guitarrista Michel Leme e tava indo buscar minha mãe com aquelas idéias musicais na cabeça, então fui cantando e dirigindo. Quando cheguei, enquanto esperava ela, gravei no celular a parte B do tema.


Que instrumento usou nas gravações?

Foram usados diversos intrumentos no CD inteiro.
Nas faixas ciganas, usei o meu violão manouche Hofma com boca em D para gravar as bases, e o violão do Vinícius, um Hofma com boca oval para os solos.
Na faixa ”Mentira!” usei um violão de cordas de nylon do luthier João Batista (JB) de um amigo, e o meu bandolim do luthier Marcos Fachel.
Na Faixa “Conselho de Amigo” foi usado o violão JB novamente e o meu Bandolim, a guitarra foi uma Gibson – Es 175 de um grande amigo e guitarrista chamado Oliver Pellet.
Na “Tarde de Abril”, foi o violão JB e a minha Condor acústica modelo do Nelson Faria.
Em “Nebuloso dia” foram usados o violão JB e o bandolim do Marquinhos.
Em “Nublado” foram a Gibson Es – 175 e o Bandolim do Marquinhos.
Em “Amarelo” foram usados o meu Bandolim, uma viola caipira rozini, o violão manouche com boca em D, um violão com cordas de nylon do mesmo luthier do meu bandolim, que eu peguei emprestado e a Gibson do Oliver.
Em “Indo Ao Cinema” usei a minha Condor, e uma Ibanez semi-acústica do Vinícius.
Em “Na Hora do Rush” usei uma Gibson Lucille de um amigo e um violão emprestado do meu Luthier.



FICHA TÉCNICA

FAIXAS

1 - Mentira!
2 - Conselho de Amigo
3 - Tarde de Abril
4 - Nebuloso Dia
5 - Nublado
6 - Ciganisses
7 - Amarelo
8 - Tzigane Swing
9 - Indo ao Cinema
10 - Na Hora do Rush

ARRANJOS E COMPOSIÇÕES: Eduardo Mercuri
INSTRUMENTISTAS:

Eduardo Mercuri – guitarras, violões, bandolins, viola caipira
Lucas Baumer – bateria (2,7,10)
Graciliano Zambonin – bateria (1,3,4,9)
André Nigro – bateria (5)
Junior Dunga – baixo (1,2,4,7,9,10)
Fred Pedrosa – contrabaixo acústico em (6,8)
Hely Souza – contrabaixo acústico (5)
Elton Machado – contrabaixo acústico (3)
Gabriel Castro – sax alto (5,10), sax tenor (9)
Alexy Viegas – piano (5,9,10)
Evandro Cardoso Manchinha – gaita Ponto (1)
John Theo – violino (6,8)
Gusta Proença – triângulo (1)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mudança no subtítulo

Aos prezados leitores do blog, notifico uma pequena, mas significativa mudança no título do blog e nos posts subsequentes.

Vinha adotando, até então, a denominação jazz cigano, simples e conveniente tradução do "gypsy jazz" do inglês, "tzigane", "gitan", etc. A partir de agora, passo ao jazz manouche.

Venho percebendo que os envolvidos musicalmente no movimento têm preferido essa última denominação. Talvez por mais exótica, o que, mercadologicamente, é interessante. Também, por ser menos batida do que o termo cigano, que nos remete aqui no Brasil a elementos visuais e musicais completamente diferentes do que se encontra nesse estilo.

Pensando sobre o pastiche de cultura cigana proporcionada geralmente pelos meios de comunicação, concluí que não só a denominação manouche é mais atraente aos ouvidos como também de certa forma demonstra maior respeito à cultura da qual se originou o estilo.

Cigano, gitano, gitane, etc, são as denominações equivocadas dos europeus de quando se pensava que eles, devido à pele escura e traços finos, tinham vindo do Egito. Pesquisas recentes traçam a origem do povo Romani (como eles se chamam) à Índia. Manouche, por outro lado, é uma denominação deles para um de seus principais ramos. É o grupo do qual vêm Django e muitos de seus principais discípulos, até que o estilo começou a se espalhar entre os gadjé.

Até mais,

O Editor