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quarta-feira, 30 de março de 2011

A inspiração do Mestre das Trevas

Sem Django Reinhardt, os acordes sombrios que tornaram heavy metal um estilo mundialmente conhecido poderiam não ter saído da guitarra do Mestre das Trevas, Tony Iommi, um dos fundadores do Black Sabbath.

Ainda que tenha sido por meio dela que fiquei sabendo da existência de Django, em outubro de 1998, a Guitar Player brasileira vacila em relação ao cigano. Às vezes, com o frágil argumento de que ele tocava guitarra acústica (ignorando que ele adotou a elétrica a partir de 1946), o deixa de fora das listas de melhores guitarristas de todos os tempos, e - crime dos crimes - deixou passar o centenário dele, em janeiro do ano passado, em branco. Mandei emails oferecendo colaboração, liguei para a redação, mas não fui atendido.

Em que pese a falta de sensibilidade do povo que edita a versão brasileira da revista, os gringos estão aí para reconhecer o peso que Django teve, das mais variadas formas. Para Iommi, o cigano foi uma inspiração para continuar a tocar depois de um acidente grave, daqueles que pode decretar o fim de uma carreira promissora.

O repórter Barry Cleveland, da Guitar Player americana, entrevistou Iommi sobre o lançamento do álbum The devil you know. A matéria foi traduzida e publicada na edição deste mês da Guitar Player brasileira, sob o título Atravessando o céu e o inferno. O jornalista puxou o assunto do acidente e das adaptações necessárias para que o guitarrista superasse a perda das pontas dos dedos médio e anelar.





TRECHOS DA ENTREVISTA

GUITAR PLAYER - Depois do acidente na mão direita, você foi encorajado a tocar novamente quando ficou sabendo de Django Reinhardt?

TONY IOMMI - Sim. Até então, eu nunca havia ouvido falar de Django Reinhardt, para ser honesto. Eu era jovem. Mas assim que descobri que algo similar acontecido a ele (os dedos 3 e 4 de Reinhardt ficaram paralisados por causa de queimaduras extremas), passei a tentar saber mais sobre ele e ouvir tudo o que havia feito. Depois do acidente, disseram-me para desistir. Fui ao hospital e eles falaram: "Você pode tentar outra carreira". Mas ouvir Django me inspirou a continuar. A não ser que você tenha passado por esse tipo de acidente, não consegue saber o quanto é difícil (conseguir tocar), porque é um outro mundo. Antes do acidente, eu tocava com todos os dedos, mas depois foi como: "Deus, o que eu faço agora?" ou "Como faço essa parte?" Tentei encontrar novas maneiras de tocar, mas havia um monte de coisas que eu não podia fazer porque simplesmente não era possível nnaquela época. Não ser capaz de sentir as cordas era um dos maiores problemas, porque você pode pressionar a corda forte demais ou não saber onde está. É uma questão de trabalhar por anos até se acostumar.

(...)

O vibrato sempre foi parte fundamental do seu som. Que dedos você usava para vibrato depois do acidente?

Na maioria das vezes, eu utilizava meus dedos indicador e mínimo - e ainda uso. Por muito tempo depois do acidente, toquei somente com esses dois dedos, porque o mínimo tinha de tomar o lugar dos outros dedos e tocar as partes que eu era incapaz de fazer com eles. Era um esforço muito grande tocar acordes cheios naquela época, portanto tive de me adaptar e criar um estilo próprio. Quando uso os dedais, não sinto as cordas, e isso leva muito tempo para se acostumar.

(Revista Guitar Player, nº 179, ano 15)