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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Centenário se aproxima



Em 2010, completam-se 100 anos do nascimento do guitarrista Jean Django Reinhardt, cigano nascido na Bélgica que se tornou o grande astro do jazz na Paris dos anos 1930 e 1940. No Brasil, a data não deverá passar em branco.

Em junho do próximo ano, um evento em São Paulo, paralelo ao 30º Festival Django Reinhardt de Samois-sur-Seine, na França, cidade onde viveu seus últimos anos, irá celebrar o centenário do guitarrista.

A festa está sendo organizada pelos participantes da comunidade brasileira dedicada a Django Reinhardt no Orkut, que conta com quase 1 mil inscritos. entre os quais me incluo.

Mais informações
django100anos@gmail.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Revolução das 26 Cordas - 75 anos do QHCF

por Marcio Beck

A 2 de dezembro de 1934, o Quintette du Hot Club de France fez seu primeiro concerto. Como não sabiam ainda exatamente que som era aquele, os organizadores decidiram anunciá-los como um gênero novo de jazz (un genre noveau de jazz). Como de costume, ninguém acertava o nome de Django. Nas primeiras gravações, de musette, saiu 'Jiango Renard' e, mais afrancesadamente, Jeangot; desta vez, anunciavam 'Jungo' Reinhardt.

Charles Delaunay conseguiu reunir em estúdio a trupe que tocava nos bastidores do Hotel Claridge, sobre os quais o secretário do Hot Club de France, Pierre Nourry, havia comentado. Depois de algumas tentativas em vão de vender a ideia a gravadoras de maior porte, o disco sairia pelo selo Ultraphone.

O que era apenas uma brincadeira para os músicos se distraírem no intervalo entre apresentações no chá dançante do hotel parecia uma oportunidade lucrativa para Delaunay. Com o aval de Hugues Panassié, o colecionador mais fanático e crítico mais destacado do estilo no país, havia a possibilidade de um sucesso.

Delaunay havia marcado antes uma audição/gravação com um certo monsieur Dory, na Ódeon. O quinteto, até bem pouco antes era um quarteto. Incomodado por ser sustentado apenas por uma guitarra e o baixo durante seus solos - nos de Grapelli, ele mesmo participava da sustentação rítmica -, Django havia incluido o irmão, Nin-nin (Joseph), no grupo.

O repertório e os arranjos, segundo as recordações de Delaunay, foram decididos nos táxis que os levaram ao estúdio, naquela manhã de 9 de outubro. O guitarrista Roger Chaput achou no bolso do casaco pedaços de partituras de sucessos dos Estados Unidos, que provavelmente obtivera no cais do porto.

Os cinco se postaram em volta de um único microfone, e dispararam os standards Confessin' e I saw stars. Depois, ouvindo os acetatos, ficaram maravilhados com os resultados. O empresário houve por bem imprimir sua marca no grupo. Gravaram como Delaunay's Jazz.

O disco, no fim, não saiu. Os diretores da gravadora, cujos nomes a piedade mantém em segredo, bateram o martelo, negativamente: após muito deliberar, decidiram que era modernistique demais. O que mais tarde seria reconhecido como a maior qualidade do grupo, na audição dos integrantes do "comitê administrativo" da firma, era sua condenação.

Fazia sentido, para os padrões da época. A estrutura do Quintette, só com instrumentos de cordas, rompia com os cânones jazzísticos da época. Tão novo que, além de não ter sequer um título, a banda era apresentada no poster do primeiro concerto como "orquestra de um gênero novo de Jazz Hot".

A simples ideia era sacrilégio para os puristas. De fato, quando se materializou, na forma do quinteto, a reação deles não foi a veemente condenação, mas o frio desprezo. Jazz, afinal, era a música dos sopros, piano e voz, da bateria, onde a guitarra apenas ajudava a marcar o ritmo.

A primeira apresentação ao vivo, em um auditório da École Normale de Musique da Université de Sorbonne, levou a uma segunda, em 16 de fevereiro do ano seguinte. A essa altura, surgira a denominação Django Reinhardt - Stephane Grappelli et le Quintette du Hot Club de France, maneira encontrada para agradar os egos dos dois astros.

A boa resposta do público aos concertos estimulou Nourry a continuar a busca por uma gravadora. Após ser recusado pela Pathé-Marconi, chegou à Societé Ultraphone Française, ramo francês do selo alemão Ultraphone, que havia prosperado gravando músicas dos ciganos da Europa Oriental e na França decidiu investir no jazz hot.

Os primeiros discos foram remetidos aos EUA, a críticos selecionados entre os principais divulgadores do jazz (não por coincidência, todos diletantes brancos), por Pierre Nourry. Provavelmente ofendidos, intimamente, pela sugestão de que um francês pudesse ditar moda aos experts estadunidenses, fizeram pouco do som.

Também os classificaram, injustamente, de cópias do famoso duo guitarra-violino de Eddie Lang e Joe Venuti. Apesar de ter achado interessante a mistura dos instrumentos, quando foi apresentado a ela na casa de Émile Savitry, em 1931, Django considerava os dois músicos italianos radicados nos EUA e que fizeram sucesso na orquestra de Paul Whiteman como "muito limitados".

Entre os músicos, ocorreu o exato oposto. O som do Quintette du Hot Club de France foi recebido apaixonadamente e influenciou os maiores guitarristas das primeiras gerações de adeptos das guitarras eletrificadas, como Charlie Christian, Chet Atkins, Les Paul, até o blueseiro B.B. King.

Formação original: Stéphane Grappelli, Joseph Reinhardt, Django Reinhardt, Louis Vola e Roger Chaput