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domingo, 3 de julho de 2011

Som manouche chega ao MS

Na maioria das vezes, os jovens são apresentados ao som de Django Reinhardt pelos mais velhos. Não foi o caso do sul-matogrossense Paulo Arguelo. Aos 9 anos, ele estava ainda "nos primeiros acordes" quando viu o filme Poucas e Boas (Sweet and lowdown, 1999), de Woody Allen, provavelmente em 2001. Estava fisgado.

A partir de 2007, já se apresentando em Campo Grande, sua cidade natal, começou a usar a internet para pesquisar mais sobre o sobre o tal guitarrista que o protagonista do filme, o fictício Emmett Ray (Sean Penn), tanto temia. Alertou o pai, o também violonista Sérgio, que aderiu imediatamente à onda.

Os dois gravaram um vídeo, postado no Youtube, executando Rhythme Futur, composição original de Django:



Trata-se de um tema emblemático, ainda que menos badalado. Não costuma ser visto em listas de standards do jazz manouche. Django o registrou duas vezes em disco: em 1 de outubro de 1940 e em 22 de setembro de 1947. Nas duas, esteve acompanhado pelo parceiro descoberto após a separação de Stéphane Grappelli, o novato e talentoso - mas não genial - clarinetista Hubert Rostaing.

Era uma época de mudança. A parceria criativa com Grappelli nunca mais teve igual, mas Rostaing trazia ares de juventude e modernidade à música de Django, que já parecia datada diante da nova sensação nos Estados Unidos, o bebop. A ocupação nazista em Paris o impediria, pelos quatro anos seguintes, de ter contato com os músicos americanos mais entendidos do estilo. Quando veio a liberação, em 1944, imediatamente tentou recuperar o tempo perdido. Procurou se inteirar dos novos dialetos jazzisticos, enquanto recebia convites para revisitar a sonoridade do Quinteto ou colaborar com as big bands dominadas por metais, nas quais atuava como coadjuvante.

Na primeira gravação, além de Rostaing, Django é acompanhado na guitarra por seu irmão, Joseph Reinhardt, pelo contrabaixo de Francis Luca e a bateria do egípcio Pierre Fouad. A sessão de gravação incluiu uma cantora, Josette Dayde, mais uma tentativa do quinteto de fazer concessão ao formato jazzístico mais popular, com vocais. Na segunda, em vez de Joseph, Django tinha na guitarra o primo, Eugéne Vèes, seu contrabaixista favorito, Emmanuel Soudieux, e a bateria de André Jourdan.

O link de Rhythme futur foi colocado pelo Paulo na comunidade Jazz Manouche no Brasil, no Facebook. Depois de conferir e analisar, decidi entrar em contato com ele para algumas perguntas. O resultado está abaixo:


ENTREVISTA // PAULO ARGUELO

Você e seu pai - ou você - se apresentam profissionalmente? Qual a formação musical dos dois?

Sim, estamos fazendo algumas apresentações pela cidade e pelo estado, levando a música regional do Mato Grosso do Sul. Nossa formação é popular. Meu pai me ensinou tudo 'de ouvido', porém vem a necessidade de estudar um pouco de teoria e estou me dedicando a isso agora.

Por que Rhythme futur?

Escolhi Rhythme futur por ser uma música, como o nome diz, à frente do seu tempo e acho que até do nosso tempo. É minha preferida. Muito complexa, só sendo um "monstro" como Django para fazê-la com dois dedos e uma palheta. Eu, com dez dedos, sofri pra aprendê-la.

Quanto tempo de ensaio foi necessário?

Demorou um pouco, acho que uns seis meses. inda estou em fase de adaptação. Se fico uma semana sem tocá-la, regrido muito. Ainda estou aprendendo.

Você usou algum livro com método de jazz cigano?

Nessa música, usei o youtube como grande ferramenta, principalmente, a apresentação do Rosenberg Trio, sensacional! Tenho métodos de jazz manouche que me ajudam muito. O que diferencia e só no uso da palheta - toco com as unhas -, e o meu violão ser de náilon.

O que mais o atraiu na sonoridade de Django?

A sonoridade e o "feeling" acho que são inimitáveis. A nova forma que ele encontrou para tocar só o fez mais fantástico.

Você pretende utilizar elementos do estilo do jazz cigano no seu som a partir desta experiência?

Sim. Sempre fui fanático por flamenco, e agora também pelo manouche. Tento juntar isso sempre ao meu trabalho regional. Às vezes, vou tocar em um lugar e as pessoas pedem algo um pouco diferente. Quando toco algo manouche, a recepção é muito boa. As pessoas dizem: "Já ouvi isso em algum lugar?!" (risos) Aí, faço um resuminho sobre o jazz manouche.



Veja também:

Canal do Paulo Arguelo no Youtube
http://www.youtube.com/user/pauloarguelo

Comunidade Jazz Manouche no Brasil
http://www.facebook.com/home.php?sk=group_117755024959336

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