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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Joyeux anniversaire, Django



Quem foi ao cinema ver Django Livre (Django Unchained), de Quentin Tarantino, viu logo o nome sonoro e incomum ser remetido ao personagem do western spaghetti da década de 1960, vivido por Franco Nero. Ninguém, infelizmente, se aventurou a procurar o que inspirou o diretor Sergio Corbucci a escolher tal nome.



Antes de Django Reinhardt, django não era um nome, mas um verbo no idioma romani. Um verbo poderoso, no presente do indicativo "(eu) desperto". Foi escolhido por sua mãe, Laurènce 'Négros', justamente por isso. Um nome singular para um menino que, ela esperava, seria singular.

Se vivo fosse, completaria nesta quinta-feira, 23 de janeiro, 104 anos. Com o passar do tempo, partiram da vida também seus contemporâneos, fossem amigos ou rivais - soturno mas encantador quando queria, não se sabe de grandes inimizades que tenha nutrido. Pouco sobrou da história.

Sua importância para a música moderna não pode ser jamais subestimada. Django não foi primeiro gênio excêntrico sem treinamento musical formal. Nem o primeiro a superar uma deficiência física grave e se tornar um exímio instrumentista. Tampouco foi o primeiro guitarrista de jazz a fazer solos.

O fato é que, ao juntar todas essas características, tornou-se, pode-se dizer seguramente, o primeiro guitar hero. O primeiro cuja lenda era sussurrada entre os guitarristas. Que era capaz de feitos tão invejáveis na guitarra que muitos duvidavam de sua autenticidade.

O primeiro a gerar não um ou dois, mas uma legião de seguidores. O primeiro, enfim, a gerar um estilo com vida própria - e que se desenvolve continuamente há pelo menos seis décadas, sempre reinventado por seus novos expoentes.

O primeiro, ainda por cima, cujos seguidores não satisfeitos em copiar seus solos nota por nota, chegam a imitar suas limitações, usando na mão esquerda apenas dois dedos para solar (e os outros para ajudar a abafar e fazer alguns acordes simples).

Johnny St. Cyr. Carl Kress. Alfonzo Lonnie Johnson. Salvatore Eddie Lang Massaro. Aaron Thibeaux T-Bone Walker. Robert Johnson. Eddie Durham. Todos pioneiros das seis cordas. Nenhum deixou marca semelhante no mundo. Não foi à toa.

Existe uma única filmagem dele tocando com o som gravado sincronizado. É de um filmete promocional produzido para explicar ao público inglês o "jazz hot", de 1939, antes de o quinteto do Hot Club de France se separar. Está disponível no Youtube, na página da Lobster Films. Merece ser visto e revisto.  Ei-lo:

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Retornaremos em breve

Prezados leitores,

Após um período de "hibernação", o blog voltará à atividade em setembro de 2013.

O jazz manouche brasileiro vai cada vez mais tomando forma.

Vamos continuar a documentar este processo.

sábado, 30 de julho de 2011

Jazz Cigano Quinteto lança o primeiro CD!


Eis que hoje recebo grata supresa dos Correios: chega às minhas mãos o CD do Jazz Cigano Quinteto, enviado pela banda. Já tinha escutado na web, mas estava preparando com carinho um post a respeito. Eles me concederam a honra de fazer o texto do encarte, permitindo ainda que eu divulgasse o link do DJANGOLOGIA. Em papos online com o Vinícius Araújo, o outro guitarrista do JCQ, pedi detalhes de como tinha sido o processo de gravação.

Vinícius contou que foi uma produção independente, bancada com o dinheiro dos shows que fizeram nos últimos dois anos. Contaram ainda com a boa vontade do pessoal da Curitiba Audiowizards (que recebe aqui o agradecimento penhorado deste blogueiro).

"Apresentamos a ideia do grupo ao Lauro (Rímoli, um dos sócios), ele gostou bastante e topou fazer um preço extremamente camarada. " Sem a ajuda dele ia ser impossível ter esse projeto hoje. Sem falar que é um excelente técnico e tirou leite de pedra dos nossos instrumentos, que não são lá grande coisa...", brincou.

O CD tem preço mega-acessível (R$ 15), portanto, não há nem o que reclamar. É só comprar. Por enquanto, eles ainda estão buscando um esquema de distribuição, portanto, precisa entrar em contato direto com a banda, pelo email jazzciganoquinteto@gmail.com.

Para o próximo CD (que bom que já pensam no próximo!), o guitarrista afirma que a banda quer tentar reforçar a captação de recursos com incentivos fiscais. Um dos motivos, explica Vinícius, é poder bancar os direitos autorais de temas que não estão em domínio público – o que explica a
ausência dos temas compostos por Django e outros manouches.

Ouvindo o resultado, acho que a limitação orçamentária fez bem ao repertório. O estilo precisa de oxigenação, de novos temas. O CD traz dois choros de Pixinguinha (Lamentos e Naquele Tempo), duas tradicionais (Swing Gitane e Les Yeux Noirs/Dark Eyes/Otchi tchornie) e duas músicas (Armações ciganas e Ciganisses) que já apareciam no CD solo do Eduardo. Ainda sobra espaço para duas novas composições próprias: Aurul, do violinista John Theo, e Erica, também do Eduardo, ambas muito agradáveis aos ouvidos.

Pode haver alguém com melhor ouvido - ou algum chato - que discorde, mas o nível de execução do grupo me parece bastante elevado e as participações passam entusiasmo. Há demonstrações de virtuosismo aqui e ali, mas sem exagerar nem sair da melodia, sempre com ideias muito bem acabadas. Os músicos gravaram separadamente, por cima do violão guia tocado por Eduardo. Vinícius foi o primeiro a gravar, seguido por Eduardo, pelo contrabaixista Fred Pedrosa, por John Theo e, por fim, pelo percussionista Mateus Azevedo. Aqui, ponto e parágrafo.

A "bandeja cigana" do Mateus é um show à parte, que merece ser apreciado neste vídeo, em que ele demonstra primeiro cada peça em separado, e depois acompanha versões famosas de Les Yeux Noirs e Minor Swing. Apenas escutando, é completamente impossível adivinhar de onde está tirando os sons. Engenhosidade pouca é bobagem. Um instrumento no mais puro espírito cigano que pode ser sintetizado pela frase bastante usada aqui no Rio, "se a vida te dá um limão... faça uma caipirinha".



"É horrível fazer isso sem ouvir o que os outros vão tocar", lamentou Vinícius. "Com mais dinheiro, daria para pagar uma gravação separada mas ao vivo, com diferentes salas pros instrumentos tocando ao mesmo tempo. Quando toca todo mundo junto, rola uma química bem diferente da gravação separada. Apesar disso, me surpreendi com o resultado", disse.

Outra ideia é trazer músicos convidados, os famosos canjeiros. Um deles, inusitado, acabou sendo incorporado à banda: "O Lucas Miranda é um cavaquinista de choro que vinha tocando jazz manouche no cavaco ha um tempo nessas canjas e quase toda tarde la na FAP comigo. Inclusive substituiu o Eduardo, agora que ele foi pros Estados Unidos. Agora, ele está tocando um violão de boca em D no Quinteto... fizemos algumas apresentações com ele e já está mandando muito bem, absorveu bem rápido a linguagem".

Também mais manouche impossível é a foto de divulgação, que aparece no começo deste post, com os cinco parados diante de um Corcel antigo, com a pintura impecável num azul digno da década de 1970. Imaginei que tivesse havido alguma produção, e fui perguntar. Planejado? Qual o quê. "Aconteceu totalmente ao acaso. Íamos tirar umas fotos em uma linha de trem aqui em Curitiba, e no outro lado da rua tava aquele corcel parado. Batemos umas três ou quatro fotos com ele antes do dono voltar e saímos correndo do lugar! Acabaram sendo as melhores fotos desse dia, virou material pra vários cartazes de shows nossos", contou Vinícius, rindo.

domingo, 24 de julho de 2011

Les Paul falando de Django na BBC

Um dos principais responsáveis por Django Reinhardt ser reconhecido nos Estados Unidos como inovador da guitarra - ainda que alguns se apeguem a Charlie Christian como representante "legítimo" (leia-se, afroamericano) do estilo - foi o jovem Lester "Les Paul" Polfus, morto em agosto de 2009 por complicações de uma pneumonia.

Les Paul, que se tornaria famoso por inventar a guitarra elétrica de corpo sólida e posteriormente, a gravação multicanais, era provavelmente o fã número um do cigano entre os guitarristas dos EUA à época. Em entrevista ao programa Four, da BBC, ele falou enternecidamente sobre o impacto de Django em sua maneira de tocar. O vídeo foi postado no canal do também guitarrista Teddy Dupont no Youtube.

Abaixo, coloquei uma descrição do vídeo, com o texto em inglês.



LES PAUL (voz em off sobre imagem do quinteto tocando J'Attendrai):

I just couldn't get over him!
After i heard Art Tatum, something else happened. I heard Django Reinhardt.
When i heard him, i said, 'well, i might as well be selling shoes'.
Good old Django.


LES PAUL tira uma guitarra na capa do meio de uma fileira de guitarras e a coloca em cima da casa.

LES PAUL (voz em off):
Well, you say there's no two women alike, there's no two guitar cases alike, i'll tell you that for sure.

Tira da capa uma guitarra Selmer.

LES PAUL:
And this... it's just one of the great gifts i have here, and Django is just... was... a beautiful man.

LES PAUL (voz em off sobre imagem do quinteto tocando J'Attendrai):
He was the greatest guitarist in my mind. I'd do anything to play as great as he did.


GARY GIDDENS
Jazz Writer

I would say, more than any guitarist, it's Django that you ofter hear in Les Paul's mature style. The main things, the clarity of the style, the simplicity of the melodic lines.

LES PAUL pega um disco de Django, retira a poeira e o coloca para tocar na vitrola antiga:

LES PAUL (em off):
Way back when i was a kid, my mother would say to me, 'Lester, you don't know how good that sounds'. And i'd say, that's right, i don't know how good that sounds.


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TRADUÇÃO

LES PAUL

Eu simplesmente não conseguia esquecê-lo!
Depois que eu ouvi Art Tatum, algo mais aconteceu. Eu ouvi Django Reinhardt.
Quando eu ou ouvi, eu disse: 'bem, eu poderia estar vendendo sapatos.'
Bom e velho Django.

Bem, dizem que não há duas mulheres iguais, não há duas capas de guitarra iguais, isso digo-lhes com certeza.

E isto... é simplesmente um dos maiores dádivas que tenho aqui, e Django é simplesmente... era... um homem maravilhoso.

Na minha cabeça, ele era o melhor guitarrista. Eu faria qualquer coisa para tocar tão bem quanto ele tocava.


GARY GIDDENS
Eu diria que, mais do que qualquer guitarrista, é Django que frequentemente se escuta no estilo maduro de Les Paul. As coisas principais, a clareza do estilo, a simplicidade das linhas melódicas.


LES PAUL
Quando eu era garoto, minha mãe costumava me dizer: "Lester, você não sabe o quanto isso soa bem". E eu dizia: "Está certo, eu não sei o quanto isso soa bem."

Novo agradecimento

Interrompemos a programação do blog DJANGOLOGIA para um comunicado especial:

Eis que o blog chega a 17 seguidores, "singelo" aumento de 850%! em um ano. Agradeço novamente ao pessoal que tem visitado, lido os textos, comentado e sugerido assuntos, além dos músicos manouches que estão aos poucos ajudando a fazer o estilo ser conhecido pelo público. Agradeço mais ainda aos que se dispõe a colaborar para aprimorar cada vez mais a qualidade do material postado aqui, bem como os que o recomendam aos amigos e familiares.

Só para marcar o momento de nostalgia... Comecei o blog em 2008, após cinco anos divulgando o DJANGOLOGIA original em forma de site estático, cujo conteúdo não cheguei a completar da maneira como tinha imaginado, e que abandonei porque a pesquisa estava ainda no começo (apenas cinco anos) para tomar forma definitiva. E principalmente porque eu ainda não tinha muita ideia dos erros cometidos por Charles Delaunay, minha primeira fonte bibliográfica. O site foi levado ao ar em 2003 para marcar os 50 anos da morte de Django. O design é do publicitário Wendel Tavares.

sábado, 16 de julho de 2011

Poucas & Boas e Louis Plessier (23 e 24 / julho - Londrina - PR)

O trio paranaense Poucas & Boas, do qual já falamos aqui, vai se apresentar no próximo sábado (23/7) e domingo (24/&) ao lado do guitarrista Louis Plessier, um manouche "de raiz", dono de um estilo bastante peculiar.

Plessier nasceu em Lyon, em 1944, poucos meses antes da libertação da França pelos Aliados, na Segunda Guerra Mundial. Começou a tocar guitarra aos 15 e apaixonou-se pelo jazz manouche. No começo da década de 1960, durante uma apresentação na Alsácia, conheceu a jovem Marie Weiss, sobrinha de Django Reinhardt. Os dois se casaram e mantiveram um relacionamento tristemente encerrado em 2000, com a morte de Marie.

Tio de outros dois manouches de renome, Biréli e Fisso Lagrène, Plessier – com quem tocou na cidade de Barr, na Alsácia – alcançou uma técnica com equilíbrio milimétrico entre a base e o solo. Transita entre um e outro sem esforço, realiza ambos simultaneamente, tudo sem perder o ritmo e o senso de melodia.

Há um ano, Plessier deixou a França para se instalar em Santos. A primeira visita ocorreu em novembro de 2002, quando ele conheceu um ótimo motivo para voltar, além da música: a atual mulher, Marilene. Em 2004, o guitarrista mostrou seu som em Fortaleza, e, em 2007, apresentou o espetáculo "Latcho Drom" no Sesc Santana. Em 2009, foi a vez do Sesc Santos ceder espaço para seu espetáculo "O Caminho do Jazz Manouche".Voltou ao palco do teatro do Sesc Santos no passado, com o show "Nas cordas do coração".

Infelizmente, há pouco para se ver dele no Youtube, por enquanto. Seu canal possui apenas um vídeo, postado em janeiro deste ano, de um improviso executado em apresentação na Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos, em 2010.



Pelo que o líder do trio, Mauro Albert, adiantou ao DJANGOLOGIA, o repertório vai ficar mais em torno dos "standards manouches" e algumas composições menos conhecidas, mas bem representativas do estilo. E muito improviso, claro. Sem dúvida, vale conferir.

Serviço
Trio Poucas & Boas e Louis Plessier
Circo Funcart
Rua Senador Naves, 2380 – Jardim Petrópolis, Londrina, PR.
Ingressos R$ 30 (R$ 15 estudantes e professores de música, R$ 10 alunos do Festival de Música e Espectadores Funcart)
Informações: (41) 3342-2362

Canal de Louis Plessier no Youtube
http://www.youtube.com/user/LouisPlessier

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Agenda Manouche para julho

Trio POUCAS & BOAS

Dia 13 (quarta-feira) - Gravação para Rádio da Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Dia 14 (quinta-feira) - Festival de Música de Londrina - Valentino Bar (Rua Prefeito Faria Lima, 486, )

Dia 21 - Música no Mall - Shopping Catuai (Rodovia Celso Garcia, s/n, km 377, Londrina - PR)

Dias 23 e 24 (sábado e domingo) - Com Louis Plessier (Funcart - Rua Senador Naves, 2380 – Jardim Petrópolis, Londrina, PR)


HOT CLUB DE PIRACICABA

Dia 20 (quarta-feira) - Noite francesa no Tre Ristorante & Vinoteca (Rua Alferes José Caetano, 1410, Centro, Piracicaba - SP. Tels: 19-3435-9803 / 3402-6802)



BH GYPSY JAZZ


Dia 23(sábado) - Décima Primeira Festa Nacional Francesa,às 17:00.
Rua Pernambuco,entre Rua Cláudio Manoel e Rua Santa Rita Durão-Belo Horizonte-MG


HOT JAZZ CLUB

 

Dia 29(sexta) - Hot Jazz Club e convidados às 21hrs no Pizza Bar Soul (Av. Albino José Barbosa de Oliveira, 1.277
Barão Geraldo - Campinas | SP)



Se você tem uma banda de jazz manouche e quer divulgar sua agenda de shows, envie-a para o e-mail felipoxss@hotmail.com.