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terça-feira, 15 de junho de 2010

Pioneiros das cordas



Na década de 1930, o uso da guitarra no jazz já tinha começado a mudar. Antes limitado a uma função rítmica, o instrumento vinha sendo libertado das convenções. Foram fundamentais nessa transformação guitarristas proeminentes da década anterior que também tocavam banjo, em funções mais melódicas, empregando mais frequentemente técnicas de solo em uma corda (single note). Entre os pioneiros nessa área, estavam o banjoísta/guitarrista de confiança do já consagrado Louis Armstrong, Johnny St. Cyr, além de Lonnie Johnson, Carl Kress e Dick McDonough.

Destes, possivelmente o caso talvez mais emblemático foi o de Eddie Lang (pseudônimo de Salvatore Massaro). Nascido na Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1902, Lang aprendeu a tocar com o pai, guitarrista, bandolinista e luthier de ambos os instrumentos. Passou pela banda dos irmãos Dorsey (Tommy e Jimmy) e formou dupla com o violinista Joseph "Joe" Venuti, seu amigo de infância, com quem gravou regularmente entre 1926 e 1933. Lang foi um dos primeiros a adotar as guitarras elétricas de corpo oco produzidas pela empresa de Orville Gibson.

Lang morreu em 1933, de complicações de uma cirurgia simples – à época, todas eram complicadas – de amídalas. Desfez-se assim, tristemente, a dupla que iniciou o processo que seria consolidado por Django e Grappelli de firmar os instrumentistas de cordas como solistas apreciados em contextos jazzísticos. Lang e Venuti eram ótimos músicos, mas executavam a maioria de suas estripulias instrumentais em andamentos lentos ou medianos.

É nítido, ouvindo atentamente essa e outras gravações dos dois, como Goin’ places e Doin’ things (1927), e Sweet Sue, Just you (1930) - com a banda de Jimmy Dorsey -, de onde veio a inspiração para a dupla que abalaria Paris e a Europa.

Eddie Lang e Joe Venuti, ilustração de Johanna Goodman A diferença entre Lang & Venuti e Django & Grapelli está na temperatura. Foi a passagem do jazz de cordas "morno" para o "quente". Ainda que seis anos separem as gravações da primeira dupla, de 1928, e da segunda, de 1934, para o clássico Dinah, de Louis Armstrong, as diferenças entre elas fazem supor um intervalo de tempo muito maior. A da dupla de pioneiros é de excelente qualidade, sem dúvida. Os solos de Lang traduzem bem a melodia para a guitarra, e ele mostra criatividade e desenvoltura na digitação. Venuti também demonstra domínio completo do seu instrumento.

Django & Stéphane, no entanto, eram gênios. O Quinteto do Hot Club da França fazia tudo aquilo, e mais, e geralmente em altíssimas velocidades e em frenéticos improvisos. Guitarrista e violinista assumiam o manto de virtuoses sem medos. Sua execução não era simplesmente tecnicamente impecável, era destinada a impressionar as platéias.

Chamam a atenção as liberdades tomadas por Django e Grappelli com as melodias. Enquanto os antecessores apresentavam ideias convencionais, solos que remetessem diretamente à melodia básica do tema, os sucessores usavam as partículas básicas da música para improvisações que abusavam de recursos então subestimados, como os glissandos (“deslizar” de uma nota para outra) e os vibratos (“tremular” a nota).

2 comentários:

Icaro Britto disse...

Parabens pela fonte de ótima informação. É de extrema importância para a cultura da música iniciativas como esta.
Um abraço
Icaro Britto - Salvador/Bahia

Marcio Beck disse...

Ícaro, agradeço a visita e os elogios. Se quiser, mande sugestões de assuntos para abordar.

abs