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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Origens do povo romani

Bandeira romani - O styago le romengo - Criada em 1933 pela Uniunea Generala a Romilor din Romania

por Ian Hancock

Os roma surgiram de muitos grupos diferentes desde o começo, e tem absorvido forasteiros através da sua história. Porque chegaram à Europa do Leste, os primeiros europeus pensaram que eles eram da Turquia, ou Núbia, ou Egito, ou qualquer dos vagamente conhecidos lugarees não-europeus, e foram chamados, entre outras coisas, de "gitanos", ou "gitanos", que é de onde vem a palavra "cigano". Em alguns lugares, esta identidade egípcia foi levada inteiramente a sério, e sem dúvida foi pega emprestada pelos próprios primeiros roma. No século 15, Jaime V da Escócia concluiu um tratado com um líder romani local empenhando o apoio de seus exércitos para ajudar a recuperar "Pequeno Egito" (um antigo nome para Epirus, na costa greco-albanesa) para eles.

Só na segunda metade do século 18 os intelectuais na Europa começaram a reparar que a língua romani, na verdade, veio da Índia. Palavras básicas, como alguns numerais e termos de parentesco, nomes de partes do corpo, ações e assim por diante, eram comprovadamente indianas. Então - eles concluíram - se a língua era originalmente indiana, seus falantes também devem ser indianos. Uma vez que eles perceberam isto, as perguntas seguintes foram as óbvias: se os roma são de fato da índia, quando eles partiram, e por que, e ainda há roma no país?

No começo do século 11, a Índia estava sob ataque do general muçulmano Mahmud de Gazni, que tentava expandir o Islã para o leste, para dentro da Índia, que era majoritariamente território hindu. Os governantes indianos vinham reunindo tropas para deter o exército muçulmano há vários séculos, deliberadamente atraindo seus guerreiros das várias populações não-arianas. Os arianos haviam se deslocado para a Índia muitos séculos antes, e empurrado a população original para o Sul, ou então os absorvido no estrato mais baixo de sua sociedade, que começaram a separar em diferentes níveis sociais, ou castas, chamadas varnas ("cores") em sânscrito.

Os arianos julgavam ser a vida ariana mais preciosa que a vida não-ariana, e não arriscariam perdê-la em batalha. Então as tropas que foram reunidas para combater os exércitos de Mahmud de Gazni eram de populações não-arianas, feitos membros honorários da Kshattriya, a casta guerreira, e tinham permissão para usar seus trajes de batalha e emblemas.

Eles foram tirados de diferentes grupos étnicos que falavam muitas línguas e dialetos diferentes. Alguns eram lohars e gujars, alguns eram tandas, alguns eram rajputs, não-indianos [de famílias] que tinham vindo morar na Índia séculos antes, e alguns podem também ter sido siddhis, africanos da África Oriental que lutaram como mercenários tanto para os hindus quanto para os muçulmanos. Este exército composto saiu da Índia através das passagens nas montanhas rumo ao oeste, para dentro da Pérsia, batalhando com as forças muçulmanas ao longo do limite leste do Islã. Enquanto isto é em alguma medida especulativo, é baseado em poderosas evidências históricas e linguísticas, e oferece o cenário mais embasado até hoje. Como o Islã não estava apenas abrindo estradas para a Índia pelo leste, mas estava também se espalhando para o Oeste, rumo à Europa, este conflito carregou as tropas indianas - os primeiros roma - mais e mais naquela direção, até que eles eventualmente atravessaram para o Sudeste da Europa perto do ano 1300.

Desde o começo, então, a população romani tem sido feita de vários povos diferentes que foram unidas por diferentes razões. Conforme a população étnica e linguisticamente mista foi se movendo para longe de sua terra de origem (no começo do século 11), começou a adquirir sua própria identidade étnica, e foi nessa época que a língua romani também começou a tomar forma.

Mas a mistura de povos e linguagens não parou lá, pois à medida que os guerreiros moveram-se para o Noroeste através da Pérsia, pegaram palavras e gramática do persa, e sem dúvida absorveram novos membros, também; e a mesma coisa aconteceu na Armênia e no Império Bizantino, e que continuar a acontecer na Europa. Em algumas instâncias, a mistura de pequenaos grupos de roma em outros povos resultou em tal grupo sendo absorvidos e perdendo sua identidade romani; os Jenisch são talvez exemplo disso. Em outros, os forasteiros é que foram absorvidos, e, com o passar do tempo, se tornaram um com o grupo romani.

Na Europa, por volta de 1500, os roma ou foram mantidos na escravidão nos Balcãs (no território que é hoje a Romênia), ou conseguiram se mover adiante para o resto do continente, alcançando cada país do Norte e Oeste. No decorrer deste tempo, como resultado de terem interagido com várias populações europeias, e ter sido fragmentados em grupos separadas por grandes distâncias, os roma emergiram como uma coleção de grupos étnicos distintos dentro do todo maior.




NOTA DO EDITOR:


O honorável Ian F. Hancock, de descendência romani britânica e húngara, representa os roma no Conselho Memorial do Holocausto dos Estados Unidos. Ele é professor de Linguística da Universidade do Texas, em Austin. O artigo acima foi reproduzido com permissão do autor, obtida por e-mail.

Ian HancockPara saber mais sobre o professor Ian Hancock

Universidade do Texas

Wikipedia

Para saber mais sobre a cultura romani

The Romani Archives and Documentation Centre

Patrin Web Journal

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pioneiros das cordas



Na década de 1930, o uso da guitarra no jazz já tinha começado a mudar. Antes limitado a uma função rítmica, o instrumento vinha sendo libertado das convenções. Foram fundamentais nessa transformação guitarristas proeminentes da década anterior que também tocavam banjo, em funções mais melódicas, empregando mais frequentemente técnicas de solo em uma corda (single note). Entre os pioneiros nessa área, estavam o banjoísta/guitarrista de confiança do já consagrado Louis Armstrong, Johnny St. Cyr, além de Lonnie Johnson, Carl Kress e Dick McDonough.

Destes, possivelmente o caso talvez mais emblemático foi o de Eddie Lang (pseudônimo de Salvatore Massaro). Nascido na Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1902, Lang aprendeu a tocar com o pai, guitarrista, bandolinista e luthier de ambos os instrumentos. Passou pela banda dos irmãos Dorsey (Tommy e Jimmy) e formou dupla com o violinista Joseph "Joe" Venuti, seu amigo de infância, com quem gravou regularmente entre 1926 e 1933. Lang foi um dos primeiros a adotar as guitarras elétricas de corpo oco produzidas pela empresa de Orville Gibson.

Lang morreu em 1933, de complicações de uma cirurgia simples – à época, todas eram complicadas – de amídalas. Desfez-se assim, tristemente, a dupla que iniciou o processo que seria consolidado por Django e Grappelli de firmar os instrumentistas de cordas como solistas apreciados em contextos jazzísticos. Lang e Venuti eram ótimos músicos, mas executavam a maioria de suas estripulias instrumentais em andamentos lentos ou medianos.

É nítido, ouvindo atentamente essa e outras gravações dos dois, como Goin’ places e Doin’ things (1927), e Sweet Sue, Just you (1930) - com a banda de Jimmy Dorsey -, de onde veio a inspiração para a dupla que abalaria Paris e a Europa.

Eddie Lang e Joe Venuti, ilustração de Johanna Goodman A diferença entre Lang & Venuti e Django & Grapelli está na temperatura. Foi a passagem do jazz de cordas "morno" para o "quente". Ainda que seis anos separem as gravações da primeira dupla, de 1928, e da segunda, de 1934, para o clássico Dinah, de Louis Armstrong, as diferenças entre elas fazem supor um intervalo de tempo muito maior. A da dupla de pioneiros é de excelente qualidade, sem dúvida. Os solos de Lang traduzem bem a melodia para a guitarra, e ele mostra criatividade e desenvoltura na digitação. Venuti também demonstra domínio completo do seu instrumento.

Django & Stéphane, no entanto, eram gênios. O Quinteto do Hot Club da França fazia tudo aquilo, e mais, e geralmente em altíssimas velocidades e em frenéticos improvisos. Guitarrista e violinista assumiam o manto de virtuoses sem medos. Sua execução não era simplesmente tecnicamente impecável, era destinada a impressionar as platéias.

Chamam a atenção as liberdades tomadas por Django e Grappelli com as melodias. Enquanto os antecessores apresentavam ideias convencionais, solos que remetessem diretamente à melodia básica do tema, os sucessores usavam as partículas básicas da música para improvisações que abusavam de recursos então subestimados, como os glissandos (“deslizar” de uma nota para outra) e os vibratos (“tremular” a nota).